Patricia Morales Bertucci
A performance site specifc PERPLEXIDADE |experiência de re-desenho no-do espaço público aconteceu no dia três de junho de 2013, às 16 horas, na estação do outono, em torno dos álamos, árvores existentes na Praça da Paz do Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo.
A performance site specifc PERPLEXIDADE |experiência de re-desenho no-do espaço público aconteceu no dia três de junho de 2013, às 16 horas, na estação do outono, em torno dos álamos, árvores existentes na Praça da Paz do Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo.
A ideia para a performance nasceu como um trabalho de conclusão da disciplina Encenações em Jogo: Experimentos de Criação e Aprendizagem do Teatro Contemporâneo, ministrada pelo Professor Dr. Marcos Bulhões, na Escola de Comunicação e Artes da USP. Contudo, essa ideia inicial acabou se tornando um evento da programação do Parque Ibirapuera, para a Semana do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo.
O re-desenho do-no espaço materializou-se através das linhas de lã vermelha costuradas entre os álamos - as únicas árvores no local que perderam completamente as folhas durante o outono. A costura aconteceu em sintonia com o corpo-dançante de Rodrigo Severo e o som do trombone de Gil Duarte. Essa experiência foi capturada pelas câmeras de Cau Vianna e Erika Nishi, editada por Bruno Temóteo e se tornou um vídeo-paranoia[1].
O conceito de experiência de John Dewey (2010) estruturou a ação. Para o filósofo, toda criatura viva recebe e sofre influência do meio através da experiência, que emerge dos processos de interação entre o organismo vivo e o meio em que ele está envolvido. Em Perplexidade, o ambiente experimentado pelos performers, o espaço público do Parque Ibirapuera, teve corpos e linguagens artísticas diferentes, interagindo de forma simultânea.
A experiência ocorre continuamente, porque a interação do ser vivo com as condições ambientais está envolvida no próprio processo do viver. Nas situações de resistência e conflito, os aspectos e elementos do eu do mundo implicações nessa interação modificam a experiência com emoções e ideias, de modo que emerge a interação consciente. (DEWEY, 2010, p.110)
A referência teórica da ação foi o poema No parque Ibirapuera, de Roberto Piva, publicado no livro Paranoia, de 1963. O livro relata a experiência da deriva surrealista do poeta pela cidade de São Paulo e é também uma releitura de Paulicéia Desvairada (1922), de Mário de Andrade. A partir da leitura do poema, foram sobrepostas duas camadas de significação do espaço para a performance: a descrita por Piva e, ao mesmo tempo, a de Mário de Andrade.
A performance Perplexidade site specific busca uma noção de especificidade com relação ao lugar de sua ocorrência. Porém, não apenas a referência física do lugar, mas também a histórica. Vera Maria Pallamin (2000) defende que tal noção:
(...) propõe um confronto direto com a história do lugar da obra e a construção de sua territorialidade. Esta especificidade aponta para a tensão entre os modos de representação do cotidiano, dimensões dele reprimidas na perspectiva estética dominante, aponta para a consideração dos espaços públicos a partir dos interesses privados que os ocupam, dos movimentos de exclusão social que provocam a imposição de uso dos espaços. Neste sentido, as fissuras sociais do terreno em que ocorre ou se instala dizem-lhe respeito diretamente, afetam sua materialidade, assim como as imposições e negociações que delineiam a disponibilidade deste. (PALLAMIN, 2000, p.50)
A site specific arte tem em seus primórdios a performance, os happenings urbanos e a escultura land art e earth art dos anos 1960. Foi nesse período que os limites entre a arte e a experiência da vida real ficaram cada vez mais fluidos. A arte passou a ser considerada parte do cotidiano, pois os museus e galerias não podem ser o “suporte estético e político” para a “arte-viva”.
Com a land art e a earth art – e, depois, com a site specifc art -, a escultura começou a ocupar o espaço de uma forma até então exclusiva da arquitetura e do urbanismo. Deste modo, o espaço se torna um campo de experimentação para a arte, desviando-se da teoria do modernismo. Segundo Robert Smithson a arte busca na exploração urbana “um médium, meio para extrair do território algumas categorias estéticas e filosóficas com as quais se confrontar” (CARERI, 2009, p. 166, tradução nossa).
O artigo que Tony Smith publica na revista Artforum, em 1966, é um retrato do que se buscava experimentar no espaço urbano naquele momento. O texto é um relato de uma viagem do artista por uma estrada em construção na periferia de Nova Iorque. Numa noite, com alguns estudantes de Cooper Union, Smith decide entrar sem permissão dentro da obra da estrada e percorrer de carro a linha de asfalto negro que atravessa o espaço marginal da periferia americana, como um corte no nada. Durante a viagem, Smith sentiu um indescritível êxtase, que definiu como: “The end of art: a estrada e grande parte da paisagem são artificiais, e mesmo assim isso não pode ser chamado de um trabalho de arte” (CARERI, 2009, p. 120, tradução nossa). O artista defende que tamanho “maravilhamento”, próximo do que Immanuel Kant define como o sublime, só poderia ser alcançado pela experiência[2] no espaço real.
Para Francesco Carreri (2002), as sensações de infinito e do fim da arte de Smith não vieram somente daquele perfil negro que percorria a paisagem, mas também do tipo de paisagem que rodeava um território real que, no entanto, não havia sido investigado pela arte. A partir de então, os artístas passam a transformar a visão do público sobre o território, apresentando-o de outra forma, reavaliando valores estéticos.
Imagens
CRIADORES
Patricia Bertucci (direção geral e arquiteta)
Evaldo Mocarzel (dramaturgo e cineasta)
Gil Duarte (músico e artista plástico)
Rodrigo Severo (ator e performer)
Cau Vianna (fotógrafo)
Erika Nishi (produção e fotografa)
Bruno Temóteo (edição de vídeo)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARERI, Francesco. Walkscapes: El andar como práctica estética. Barcelona: Editoral Gustavo Gili, 2009, p.158.
DEWEY, John. Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. Versão 1.0. 1 [CD-ROM]. 2001.
PALLAMIN, Vera Maria. Arte Urbana ; São Paulo : Região Central (1945 - 1998): obras de caráter temporário e permanente. São Paulo: Fapesp, 2000.
PIVA, Roberto. Paranoia. São Paulo: Boletim do mundo mágico, 1963.
AGRADECIMENTOS
À Maria José, diretora do Departamento de Educação Ambiental e Cultura de Paz, da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura do Município de São Paulo, pelo apoio e por colocar à disposição o espaço do Parque Ibirapuera para a realização da performance.
Aos amigos: Luana Visi, pelas correções e leitura atenciosa deste artigo. Rodrigo, Erika Nishi e Niki Nishi, pelas ideias durante a preparação da performance.
[2] Refiro-me aqui à experiência como qualquer conhecimento obtido por meio dos sentidos. Etimologia: lat. experientìa, ae “prova, ensaio, tentativa”. (HOUAISS, 2001)
oi, gostaria de saber mais sobre essa performance. Sou aluna de cenografia e gostaria de falar sobre em uma apresentação de trabalho na faculdade. meu email: scaramussalara@gmail.com
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