sexta-feira, 12 de julho de 2013

Viewpoints e improvisação musical

Trata-se de re-conceitualizar a teoria dos Viewpoints criados por Anne Bogart e Tina Landau, para o ambiente criativo da improvisação musical, em especial, à que chamaremos de improvisação não-idiomática/improvisação livre – free improvisation - conforme a conceitualização de DerekBailey. Propõe-se uma adaptação dos recursos e procedimentos sugeridos pelos viewpoints como ferramenta para criação musical interativa, de carácter improvisatório, e em realtime. Os viewpoints em seus módulos - temporais e espacial – devem ser reorganizados para o ambiente musical da improvisação não - idiomática, desdobrados em outros ‘’sets’’ de parâmetros mais convenientes e manipulados em sua teoria como um suporte de ação para o músico, lembrando que não se trata de buscar através dos viewpoints um fim, mas sim um meio, um processo, uma ferramenta de criação, que colabore para adentrarmos nas cearas do objeto sonoro e na escuta reduzida, conforme as conceitualizações de Pierre Schaeffer.
Não se trata de compor obras através dos ‘’sets’’ de parâmetros espaço/temporais dos viewpoints, mas sim utilizá-los como estratégia para a ação sonora.
Os viewpoints como focos de atenção no momento da improvisação esta aqui aliado à performance, neste caso, a performance musical improvisada não-idiomática, numa comunhão de linguagens artísticas que apontam conjuntamente para uma criação que não mais tenha na construção semântica um ponto de partida, mas sim, uma criação que parta da ação, que lide com o tempo, o acaso e a imprevisibilidade como forças frequentes e até mesmo esperadas, num processo de alimentação autopoiética, conforme as formulações de Huizinga – em Homo Ludens. O corpo é central nessa perspectiva, possuidor da potência de inserir uma ação no instrumento, que por sua vez responderá em criação sonora interativa.


O que é viewpoints ?

Viewpoints é uma filosofia traduzida como uma técnica para (1) treinar performers; (2) construir ensamble; e (3) criar ‘’movimentos’’ para o palco. Viewpoints é um conjunto de nomes dados a certos princípios de movimentos através do tempo e espaço; estes nomes constituem uma linguagem para ‘’falar’’ do que acontece no palco, como pontos de cuidado/focos de atenção que o performer faz uso enquanto trabalha.
Abaixo veremos a descrição do funcionamento dos viewpoints conforme a proposta de Bogard e Landau, e cabe relembrar que seu funcionamento não é fechado em sua descrição. O performer deverá apropriar-se e reconstruí-lo em sua improvisação como uma proposta e não como uma finalidade.

Viewpoints of tempo
TEMPO - The rate of speed at which a movement occurs; how fast or slow something happens onstage.
DURATION - How long a movement or sequence of movements continues. Duration, in terms of Viewpoints work, specifically relates to how long a group of people working together stay inside a certain sec-tion of movement before it changes.
KINESTHETIC RESPONSE - A spontaneous reaction to motion which occurs outside you; the timing in which you respond to the external events of movement or sound; the impulsive movement that occurs from a stimulation of the senses. An example: someone claps in front of your eyes and you blink in response; or someone slams a door and you impulsively stand up from your chair.
REPETITION - The repeating of something onstage. Repetition includes (1) Inter-nal Repetition (repeating a movement within your own body); (2) External Repetition (repeating the shape, tempo, gesture, etc., of something outside your own body).

Viewpoints of Space
SHAPE - The contour or outline the body (or bodies) makes In space All Shape can be broken down into either (1) lines; (2) curves (3) a combination of lines and curves. Therefore, in Viewpoints training we create shapes that, are round, shapes that are angular, shapes that are a mixture of these two. In addition, Shape can either be (1) stationary; (2) moving through space. Lastly, Shape can be made in one of three forms: (1) the body in space; (2) the body in relationship to architecture making a shape; (3) the body in relationship to other bodies making a shape.
GESTURE  - A movement involving a part or parts of the body; Gesture is Shape with a beginning, middle and end. Gestures can be made with the hands, the arms, the legs, the head, the mouth, the eyes, the feet, the stomach, or any other part or combination of parts that can be isolated. Gesture is broken down into: 1. BEHAVIORAL- GESTURE. Belongs to the concrete, physical world of human behavior as we observe it in our everyday reality. It is the kind of gesture you see in the supermarket or on the subway: scratching, pointing, waving, sniffing, bowing, saluting. A Behavioral Gesture can give informa- tion about character, time period, physical health, circum-stance, weather, clothes, etc. It is usually defined by a per-son's character or the time and place in which they live. It can also have a thought or intention behind it. A Behavioral Gesture can be further broken down and worked on in terms of Private Gesture and Public Gesture, distinguishing between actions performed in solitude and those performed with awareness of or proximity to others. 2. EXPRESSIVE GESTURE. Expresses an inner state, an emotion, a desire, an idea or a value. It is abstract and symbolic rather than representational. It is universal and timeless and is not something you would normally see someone do in the supermarket or subway. For instance, an Expressive Gesture might be expressive of, or stand for, such emotions as "joy' "grief" or "anger." Or it might express the inner essence of Hamlet as a given actor feels him. Or, in a production of Chekhov, you might create and work with Expressive Gestures of or for "time," "memory" or "Moscow." I
ARCHITECTURE - The physical environment in which you are working and how awareness of it affects movement. How many times have we seen productions where there is a lavish, intricate set covering the stage and yet the actors remain down center, hardly exploring or using the surrounding architecture? In working on Architecture as a Viewpoint, we learn to dance with the space, to be in dialogue with a room, to let movement (especially Shape and Gesture) evolve out of our surroundings. Architecture is broken down into: 1. SOLID MASS. Walls, floors, ceilings, furniture, windows, doors, etc. 2. TEXTURE. Whether the solid mass is wood or metal or fabric will change the kind of movement we create in relationship to it. 3. LIGHT. The sources of light in the room, the shadows we make in relationship to these sources, etc. 4. COLOR. Creating movement off of colors in the space, e.g., how one red chair among many black ones would affect our choreography in relation to that chair. 5. SOUND. Sound created by and from the architecture, e.g., the sound of feet on the floor, the creak of a door, etc. Additionally, in working with Architecture, we create spatial meta-phors, giving form to such feelings as I'm "up against the wall," "caught between the cracks," "trapped," "lost in space," "on the threshold," "high as a kite," etc.
SPATIAL RELATIONSHIP - The distance between things onstage, especially (1) one body to another; (2) one body (or bodies) to a group of bodies; (3) the body to the architecture. What is the full range of possible distances between things onstage? What kinds of groupings allow us to see a stage picture more clearly? Which groupings suggest an event or emotion, express a dynamic? In both real life and onstage, we tend to position ourselves at a polite two- or three-foot distance from someone we are talking to. When we become aware of the expressive possibilities of Spatial Relationship onstage, we begin working with less polite but more dynamic distances of extreme proximity or extreme separation.

Alguns benefícios recebidos dos viewpoints
Surrender – entrega, cessar a resistência. Viewpoints nos libera da pressão de ter que construir a todo tempo, de não forçar a criatividade. Permite-nos uma entrega, um deixar-se levar para um espaço vazio de criatividade, e acreditar que há algo lá, uma vez que nos ajuda a ‘’deixar alguma coisa ocorrer’’, mais que ‘’fazer acontecer’’.
Possibility – eventualidade, possibilidade. Viewpoints nos ajuda a reconhecer as limitações que impomos a nós mesmos e nossa arte pela habitual submissão à pressão da autoridade encontrada nos ‘’textos’’, no diretor, professor. Em viewpoints não existe bom ou ruim, certo ou errado. Há somente possibilidade, e antes do processo, escolhas.
Choice and Freedom - Viewpoints nos oferece consciência, o que nos permite fazer escolhas com liberdade. Uma vez que o performer estiver consciente de todo espectro, não necessitará inclinar-se para as decisões a todo tempo, mas estará livre para tal. Com viewpoints aprendemos a escutar com nossos corpos e ver com o sexto sentido.

Referências:
BAILEY, Derek. Improvisation: Is Nature and Practice in Music. New York, 1992.

BOGARD, Anne, and Tina Landau. The Viewpoints Book. New York: Theatre Communications. Book, 2005.

COSTA, Rogério Luiz Moraes. O músico enquanto meio e os territórios da livre improvisação. Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2003.
Estratégias Pedagógicas para a Prática da Livre Improvisação: diálogos entre a improvisação e a composição. Anais do XX Congresso da Anppom, Florianópolis, SC, 2010,

SCHAEFFER, Pierre. 1966. Traité des objects musicaux, Paris: Seuil.













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