Verbete: COMPOSIÇÃO
Autor:
Fabiano Lodi
Para Bogart (2005, p. 137),
“Composição é uma extensão natural do treinamento em Viewpoints. É o ato de escrever como um grupo, no tempo e no espaço,
usando a linguagem do teatro”. Trata-se de uma etapa do treinamento voltada à
criação de obras originais. Tarefas específicas relacionadas a uma temática que
se pretende abordar são designadas aos artistas do grupo com o qual se está
trabalhando. Incentiva a assimilação prática de materiais e ideias diversas
surgidas nas sessões de Viewpoints,
com vistas a um direcionamento artístico cênico, seja uma cena aleatória, uma
peça curta, uma performance, coreografia etc.
Seu conteúdo consiste em um
conjunto de possibilidades estruturado a conferir a autoria da obra em processo
aos artistas envolvidos em sua criação. Configura-se pelo estabelecimento de um
espaço próprio para esboçar ideias rapidamente e mostrá-las cenicamente,
torná-las ações concretas. Algumas premissas referentes ao trabalho criativo
que emerge dessa metodologia incluem: encorajar artistas a fazerem escolhas sem
elaborações prévias demasiadas; acentuar o risco de agir impulsionado
primordialmente por meio de intuições, de algo desconhecido e que pode se
relacionar à temática investigada entre o grupo de artistas; minimizar o
compromisso, muitas vezes limitador, de elaborar resultados artísticos premidos
pelo desejo de significar.
Exemplo prático dessa
abordagem pode ser verificado em Não Olhe Agora,
produção do Coletivo
Improviso, do Rio de Janeiro, cujos expoentes principais são o diretor
Enrique Diaz e a atriz Mariana Lima. O tratamento cênico dado a essa obra evidencia
a justaposição de variados fragmentos performativos originados em sessões de
improvisação, alicerçadas na filosofia dos Viewpoints.
Landau
(1995, p. 26) destaca que “Composição
é para o diretor o que os viewpoints
são para os atores: um método para o exercício da sua arte”. Considerada a
não-existência de uma hierarquia na prática de Composição, vislumbra-se indícios
de que a direção teatral pode ser exercida, eventualmente, por não diretores. Este
entendimento confere, por exemplo, aos atores, poderes de decisão sobre o
próprio trabalho. Bogart (2005, p. 153) admite esta possibilidade quando afirma
que “alguns dos materiais gerados na fase compositiva poderão ser usados
diretamente em uma produção”. Marinis
(1998, p. 08) destaca que a “perda da centralidade criativa que caracteriza o
diretor no século XX [...] representa um legado das experiências mais
significativas do novo teatro contemporâneo”.
Composição foi a primeira experiência
prática vivida por Anne Bogart dentre as três técnicas que combinou no
treinamento de atores da SITI Company. Esse contato aconteceu por intermédio
da dançarina e coreógrafa Aillen
Passloff. Na década de 1970, Passloff foi professora de Bogart no período
em que ela cursava o bacharelado em Artes em Annandale-on-Hudson, cidade
próxima a Nova York onde está localizado o campus da Bard College.
Cabe ressaltar que Viewpoints se destaca como a principal e
a mais difundida prática de treinamento de ator na SITI Company. Para Olsberg
(1994, p. 36) “o treinamento em Viewpoints
determina uma estrutura na qual os atores podem trabalhar”. Método
Suzuki e Composição são apresentados como pares combinados com Viewpoints, potencializando o que neles
há de peculiar quando desenvolvidos em uma prática continuada. No que se refere
à prática de Composição, segundo Cummings (2005, p. 221), “os viewpoints alimentam um material que
poderá ser tornar parte de um todo ainda em desenvolvimento”; relativo ao
trabalho combinado com o treinamento
a partir do Método Suzuki, o ator Barney O´Hanlon (apud LAMPE, 2001, p. 189) constata: “Viewpoints
é muito livre e Suzuki é muito formal. Viewpoints
pode trazer a vitalidade e plenitude ao corpo no [treinamento do método] Suzuki
e o Suzuki pode trazer ao treinamento em Viewpoints
a incrível compreensão do corpo no espaço”.
- Na videoperformance a seguir, uma proposta de Composição audiovisual criada em São Paulo poucos dias após as manifestações de junho. Traz um repertório material ligado a esse universo, o qual seja possível estabelecer leituras diversas a respeito dos protestos, dos movimentos contrários ao aumento da passagem dos transportes públicos em São Paulo, entre outras questões associadas e desencadeadas por meio desses acontecimentos.
- Na videoperformance a seguir, uma proposta de Composição audiovisual criada em São Paulo poucos dias após as manifestações de junho. Traz um repertório material ligado a esse universo, o qual seja possível estabelecer leituras diversas a respeito dos protestos, dos movimentos contrários ao aumento da passagem dos transportes públicos em São Paulo, entre outras questões associadas e desencadeadas por meio desses acontecimentos.
Deixe a Esquerda Livre:
Referências bibliográficas:
BOGART, Anne; LANDAU, Tina. The Viewpoints Book: A Practical Guide to
Viewpoints and Composition. New York: Theatre Communications Group, 2005.
CUMMINGS, Scott T. Anne Bogart. In:
MITTER, Shomit; SHEVTSOVA, Maria (Ed.). Fifty
Key Theatre Directors. New York: Routledge, 2005, p. 217-222.
LAMPE, Eelka. SITI - A Site of Stillness and Surprise: Ann Bogart´s Viewpoints Training
Meets Tadashi Suzuki´s Method of Actor Training. In: WATSON, Ian (Ed.).
Performer Training: Developments Across Cultures. Singapore: Harwood Academic Publishers,
2001, p. 171-189.
LANDAU, Tina. Source-Work, The Viewpoints and Composition: What are They? In:
Anne BOGART: Viewpoints. Edited by Michael Dixon and Joel A. Smith. Lyme, New
Hampshire: Smith and Kraus Inc, 1995, p. 13-30.
MARINIS, Marco de. A Direção e sua
Superação no Teatro do Século XX. In:
ECUM - Encontro Mundial de Artes Cênicas - Conferência: A formação do Diretor e
a Ruptura dos Limites do Teatro Conteporâneo. Belo Horizonte, 1998. Disponível
em: <http://ecum10anos.com.br/wp-content/uploads/2012/10/Marco-de-Marinis.pdf>.
Acesso em: 04 de abril de 2013.
OLSBERG, Dagne. Freedom, Structure, Freedom: Anne Bogart´s Directing Philosophy. Tese de Doutorado. Texas: Texas Tech University, 1994.
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