quinta-feira, 2 de agosto de 2012


FIGURINO TEATRAL

Jacqueline Silva Mendes

Trajes que são usados pelos personagens em cena.  O Figurino ajuda a revelar o personagem que está sendo criado, auxiliando o ator/atriz nessa composição e o público a ler que personagem está se apresentando no espaço teatral. Através do figurino poderemos identificar a época em que se passa a cena, o perfil psicológico do personagem, tempo e espaço da peça teatral.
São várias as mensagens que o figurino pode nos contar numa peça e estas mensagens explícitas ou implícitas são construídas através do tipo do tecido escolhido, das cores usadas na composição do figurino, na textura escolhida, no corte da roupa, etc, todos esses pontos e outros são considerados pelos figurinistas ao criar um traje de cena.

“(...) é sem dúvida através do figurino que o espetáculo moderno instaura da maneira mais profunda a sua relação com a realidade. Quanto mais audaciosa a cenografia, mais o espaço cênico tende a tornar-se simbólico, abstrato, ou afirmar-se como mera área de representação. Cabe então ao figurino e a alguns acessórios orientar a visão, a interpretação, enfim a leitura do espectador. (ROUBINE, p. 150, 1998).

Nas montagens contemporâneas, o figurino não necessariamente deve obedecer a estudos históricos, contextualizados com a época, até porque muitas apresentações contemporâneas não possuem uma preocupação linear com a história ou com o período em que acontecem as ações.
Mais do que identificar personagens o figurino é um signo, é comunicação, é um forte elemento visual numa peça teatral, um dos importantes elementos que compõe a linguagem teatral.
O que não se admite em nenhum espetáculo contemporâneo, é que o figurino se torne um mero elemento decorativo, que não dialogue com a peça nem com o público. Como exemplo do figurino criado em encenações contemporâneas, analisaremos brevemente os figurinos nas montagens do diretor americano Robert Wilson.
Os figurinos das peças de Robert Wilson são tão importantes como todos os outros elementos que compõe seus espetáculos: cenografia, luz, atores, dança, música. Pensando que, tudo o que foi/é posto em cena, nos espetáculos de Bob Wilson, não possuem objetivos apenas decorativos, cada elemento tem sua funcionalidade, tudo que está em cena está vivo e são esses objetos que o ajudam a construir um tempo e espaço diferenciado em suas obras. Um tempo que não é o cronológico, um espaço que não é somente da sala de espetáculos, um espaço pintado com a luz; Bob Wilson consegue criar imagens cênicas poderosas, ajudando o espectador a ver e escutar.

“Hoje, na representação, o figurino conquista um lugar muito mais ambicioso; multiplica suas funções e se integra ao trabalho de conjunto em cima dos significantes cênicos. Desde que aparece em cena, a vestimenta converte-se em figurino do teatro: põe-se a serviço de efeitos de amplificação, de simplificação, de abstração e de legibilidade.” (PAVIS, p. 168,2001).

Na criação dessas imagens cênicas fortes para o espectador, o figurino possui uma grande importância, porque ele também constrói seu espaço, fala ou silencia em cena.
Outros procedimentos que também contribuíram para a criação dessas imagens nos espetáculos de Wilson são as coreografias, tudo é coreografado, a luz, a cenografia, o som, o silêncio, o figurino, através dos movimentos dos atores, todos os espetáculos são matematicamente marcados.
Nesse processo de criação de figurinos percebemos alguns elementos que podemos citar como característico de vários espetáculos de Bob Wilson, como: a presença das cores frias, linhas e formas claras, fabricação de monocromos, maquiagem pesada, etc.
Um profissional que nos aponta detalhes sobre a criação dos trajes de cena nos espetáculos de Bob Wilson é Jacques Reynaud que colaborou com a criação de vários figurinos, como por exemplo: “The Three Sisters, Sonetos de Shakespeare, Woyzeck, Macbeth, etc.
Sobre a importância da luz nos espetáculos de Wilson, Reynaud expõe que, para Bob Wilson, os figurinos originais já devem estar prontos desde o começo do ensaio de luz, pois frequentemente Wilson destaca através da luz um figurino ou vários, ou outro elemento cênico é destacado em um momento singular do espetáculo e este, é sempre um momento de tensão ou surpresa na peça, por isso Bob Wilson faz questão dos ensaios com os figurinos originais, podemos observar abaixo, como personagens são destacados em cena através da luz:





Reynaud confessa também a preferência do diretor para as cores frias e afirma que considera esses elementos, (o tipo de cores, a maquiagem pesada, a luz intensa, o cenário, etc.), em sua mente quando cria os figurinos para Wilson.
 Cada diretor, cada espetáculo pedirá um determinado tipo de figurino e ao figurinista cabe a sensibilidade na composição/criação de cada figurino. 

REFERENCIAS

GALIZIA, Luiz Roberto. Os processos criativos de Robert Wilson. São Paulo: Perspectiva, 1986.
GUINSBURG, j. ; NETTO, J. Teixeira Coelho; CARDOSO, Reni Chaves. Semiologia do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2006.
PAVIS, Patrice. A análise dos espetáculos: teatro, mímica, dança, dança-teatro, cinema. São Paulo: Perspectiva, 2005.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 2001.
ROUBINE, Jean-Jacques. A Linguagem da encenação teatral. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
SAFIR, Margery Arent. Robert Wilson - From Within. The American University of Paris: Flammarion, 2012.
VIANA, Fausto. O figurino teatral e as renovações do século XX. São Paulo: Estação das letras e cores, 2010.


Um comentário:

  1. Entendo esta versão do texto -verbete - como sendo provisória, pois ela não atingiu os objetivos discutidos em sala de aula, ainda estamos no aguardo de uma nova versão,ampliada.

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