A Cena Contemporânea – Uma
experiência Prática.
Enfoque pedagógico
Martha Travassos
Martha Travassos
Projeto Vozes Roubadas
“Às vezes temos a
sensação de que estas vozes estão conversando umas com as outras,
completando-se e cantando juntas numa única voz, a voz da infância e da
juventude insubstituível.”- Zlata Filipovic
Introdução:
O projeto foi elaborado
pelos estudantes do teatro Escola Macunaíma, dirigidos por Paco Abreu onde tive
a oportunidade de ser assistente e aprendiz. Através da encenação tentamos
resgatar as vozes de jovens a partir de diários de guerra escritos e
organizados no livro: Vozes Roubadas, por Zlata Fillipovic e Melanie
Challenger. O intuito de escutar o outro em suas diversas mazelas nos fez
aproximar dos diversos conflitos vivenciados por pessoas reais. Estamos em um
momento em que percebemos com maior sensibilidade que a história educacional
caminha junto com a história social e cultural, onde a educação é uma
reprodução do dinamismo histórico como experiência humanizadora de nosso
momento histórico.
O objetivo da educação
tem sido ajudar o ser humano em seu processo de humanização.
Deparamos com
permanentes encontros e desencontros nesse processo de educação e formação
humana. A possibilidade dessa abertura para pesquisa é sintonizar-se a dinâmica
social e cultural de nossa sociedade, da capacidade de diálogo com diferentes
áreas de conhecimento e criar um lugar de resistência.
Conforme Pupo, 2005 “o teatro é afirmado mais
enquanto processo do que como resultado acabado, mais como ação e produção em
curso do que como produto. Uma transformação na percepção da plateia é assim provocada”
Tecnologias em Cena
Nossos alunos adolescentes de
Qual seria a ponte
entre eles e o fazer teatral contemporâneo? Com tais questionamentos, em meio a
tantos outros, busco compreender como os alunos se apropriam das referências
que estão ao seu redor veiculados na mídia, através de vídeos, internet e
incorporar as à suas produções e alterar o curso das práticas cênicas ali desenvolvidas.
Nessa experiência em
questão a encenação foi concebida após estudos de cena e vivências, onde
atmosferas temáticas foram propostas.
Foram organizados
grupos que pesquisaram diversas fontes onde eram relatadas situações reais de
conflitos, confinamentos e intolerância religiosa como documentários, filmes,
imagens, arquivos oficiais e outros diários de guerra e isso tudo serviu de
guia para esse universo e inspiração para as vivências. Essas vivências foram
registradas em vídeo que depois de assistido foi criado um repertório.
Os atores se
apropriaram das imagens pesquisadas na internet que remetiam o seu ponto de
vista em relação às vivências e aos textos lidos.
A extensa pesquisa de
imagens se tornou uma importante ferramenta de aproximação do ator com os
relatos dos diários. Uma reflexão sobre os conflitos ali vividos e uma forte
conexão entre os jovens e a cena contemporânea.
O processo de criação
foi desenvolvido pelos próprios estudantes através de referências trazidas por
eles mesmos em diálogo com aquelas trazidas por nós professores e foram criadas
novas formas de relação, seja com a tecnologia ou com os processos de
aprendizagem, apontaram novos arranjos para a construção do conhecimento.
Aprendi que através
desse processo, que o professor deve posicionar-se não apenas como observador,
mas como parte do grupo, sujeito às mesmas intempéries e às mesmas paixões que
atingem os demais participantes, assumindo o risco de criar junto com seus
alunos, garantindo o espaço para a experiência e não temendo os rumos
inesperados que podem surgir das investigações.
Segundo Buckingham, 2010 encontramos um território fértil de aproximação com novas gerações
no dialogo das práticas teatrais contemporâneas com as tecnologias da Imagem.
No olhar de Lehmann, 2007 dramaturgo e teórico da
estética teatral e do
teatro contemporâneo, designado
por ele como “teatro pós-dramático”,
somente “no curso da ampliação e em seguida da onipresença das mídias na
vida cotidiana desde os anos 1970, entrou em cena um modo de discurso teatral
novo e multiforme”. Para Lehmann, as práticas cênicas
desenvolvidas na segunda metade do século XX e, portanto, constituídas em
paralelo às sensíveis transformações nos costumes e ao avanço da sociedade
midiática, são experimentos radicais centrados na fragmentação das narrativas e
na negação da ilusão do real, dentre outros fatores, que trazem novas
exigências aos envolvidos na emissão e recepção dos signos e sinais que compõem
o “tempo de vida comum” da representação teatral e
aceitação de riscos.
Textos fragmentados, Sobreposições, repetições
e deslocamentos.
Nessa
encenação tivemos vários procedimentos da cena contemporânea em jogo. Os textos
fragmentados foram extraídos do texto original (livro) e somados ou intercalados
com os diários pessoais dos próprios atores de forma não linear. Sonoridades
criavam a atmosfera de repressão e ao mesmo tempo de sonho. Algumas frases de
efeito e as que resumiam sentimentos eram repetidas. Um ambiente de vozes e
palavras que queriam falar e serem ouvidas.
Jogo coletivo, coralidades:
Não buscamos mais
jogos que desenvolvam somente as capacidades individuais e sim as coletivas. Ensinamos
no teatro que é através do outro que tudo se passa. Um encontro de personalidades
formando um só caldo. Estamos interessados em formar cidadãos, espectadores
alem de futuros atores/ atrizes.
Talvez possamos pensar
a sala de aula como um laboratório, lugar de pesquisa e
experimentação, espaço
onde a radicalidade da experiência está na presença do outro e, de acordo com Pupo, envolve “a valorização do
trabalho coletivo – e dentro dele a capacidade de escuta, condição primeira da
alteridade – o desenvolvimento da capacidade de jogo, o questionamento dos
papéis habituais de ator e platéia e a ênfase na reflexão sobre o próprio
processo de criação”.
“Se você atuar de
forma que o outro se torne bom, você mesmo será bom” - Fomenko
O épico:
Através das
contestações cênicas e dos questionamentos podemos nos distanciar, avaliar
melhor e multiplicar as perspectivas. Criar múltiplos olhares sobre o mesmo
tema.
Revista Educação e Realidade. 2010
Canton, Kátia: Narrativas Enviesadas. 2009
Dayrell, Juarez (organizador):
Múltiplos Olhares Sobre Educação e Cultura. Editora UFMG. 2009
Desgranges, Flávio: A pedagogia do espectador.
Pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. 2006
Lehmann, Hans-Thies: Teatro pós-dramático. 2007
Picon-Vallin, Béatrice: Teatro híbrido, Estilhaçado e múltiplo: Um enfoque pedagógico. Sala Preta 11, 2011
Pupo, Maria Lúcia de Souza Barros:
Entre o mediterrâneo e o Atlântico, uma aventura teatral. 2005
Seria bom desenvolver um texto conclusivo...
ResponderExcluirSeria muito bom
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