sábado, 28 de julho de 2012


Adão Freire Monteiro
Encenações em Jogo: experimentos de criação e aprendizagem do teatro contemporâneo
Prof. Dr. Marcos Aurélio Bulhões Martins

Verbete – DRAMA





DRAMA - Tá tudo solto por aí
Tá tudo assim, tá tudo assim. Quem quer morrer de amor se engana
Momentos são momentos,
drama...



Drama do grego δράω – Ação. Ação mimética, representação de comportamentos humanos. “O que faz com que o drama seja drama é precisamente o elemento que reside fora e além das palavras, que tem de ser visto como ação – ou representado – para que os conceitos do autor alcancem sua plenitude”[1]. O drama é uma representação concreta que se desenrola ao tempo que nos passa, pelas ações dos personagens, vários estados  de emoção. Aí mora o perigo!? São tantas emoções...e são nossas também, daí rola aquela identificação e já estamos lá, em cena, representados, identificados, e ora defendidos, ora hostilisados.


Diderot sec. XVIII – Drama em contraste aos clássicos: tragédias, comédias, farsa de costumes. Drama como intermediário de tragédia e comédia.


Peter Szondi – O drama já está no século XVI – nas peças de Racine, onde se concentra a ação no herói, se individualiza o ser.


Quando uma forma começa a se privatizar, absolutizar, começa a ser dramática, ou seja, subjetivar. O drama é um conceito formal, precisa ter uma ideia de livre arbitrio nos personagens, a decisão é o núcleo. A ação nasce do campo íntimo, desejante. Pressupõe uma ideia de poder do indivíduo. Enquanto nas tragédias o que move é o dever, no drama o que move é o querer. Ex. AntígonaAntígona tem o dever religioso de enterrar o o irmão morto, isso é uma honra aos deuses, obedece a uma ordem coletiva. A justiça transcendee o tempo das pessoas, do indivíduo. O caráter de Antígona não move a ação. A forma dramática surge como uma necessidade de responsabizar o indivíduo.


É histórico: DRAMA – BURGUESIA –AUTONOMIA DO SUJEITO – MERCADO. O que era público vai se privatizando.


Sem platéia não existe drama. Uma peça que não é encenada é apenas literatura. O drama compele ao espectador a decifrar o que vê no palco exatamente do mesmo modo pelo qual busca encontrar o sentido ou a interpretação para qualquer acontecimento que encontre em sua vida particular. Ele vê e ouve o que o fantasma diz a Hamlet, tem de decidir se o fantasma é autêntico ou apenas um mau espírito enviado para tentar Hamlet para o pecado.


O Drama ao contrário da poesia Épica, é um eterno presente. Daí ser um ritualistico. O ritual abole o tempo por colocar sua congreção em contato com eventos e conceitos que são etrnos e, portanto, infinitamente repetíveis.


O Drama expandiu-se em drama falado, balé, ópera, comédia musical tragédia, comédia, tragicomédia, farsa, drama radiofônico, cinema. E a cerimônia ritualistica continua...posses de presidentes, desfiles, jogos olímpicos...


Os “Pós” e os Contras


O drama está imbricado no teatro, portanto falar em pós-dramático ou pré-dramático, não seria também falar em pós-teatro ou pré-teatro? .“Totalidade, ilusão e representação do mundo estão na base do modelo ‘drama[2]’”, para citar um pós-dramático, Lehmann. Assim como na pré-história havia história, no “pós-dramático” há o drama.


A constituição do teatro: pessoas, espaço e tempo, encontra-se explodida. Mas nosso parâmetro é sempre humano. Não há drama em coisas, pois não há conflito, história a priori e a posteriori. “… Sem o indivíduo não há teatro[3]”. As representações modernas tentam colocar em cena o aqui e agora, o acontecimento, mas esse acontecimento está numa trajetória histórica e seus atores em si são conflituosos no sentido de nos remeter a um antes e depois. Transcrevo aqui a noção de drama como sendo uma forma privilegiada de comentar a natureza humana, pelo que por ele o homem se engrandece ao adquirir uma consciência mais lúcida (Pierre Aimé Touchard, Le théâtre et l’angoisse des hommes, 1968), ao identificar um pronunciamento a respeito das relações entre os homens (Ronald Peacock, The Art of Drama, 1957) ou ao reconhecer nele aspectos fulcrais definidores de uma determinada cultura (Francis Fergusson, The Idea of a Theater, 1949).[4]           


Szondi nos faz ver que superar o “drama” é superar uma elaboração histórica. Suas exigências técnicas são exigências existenciais e seu modo de ser traduz um precipitado da vida social de uma época. Para o crítico que examina os textos do passado, na percepção desses movimentos históricos, interessa estudar os pontos em que os “enunciados da forma” entrem em contradição com os “enunciados do conteúdo”.


Os novos conteúdos exigem novas formas. Creio que o teatro é em si uma forma de abarcar, a seu modo, conteúdos. E é uma forma dramática. Portanto, a partir desse ângulo, fica inócuo se discutir essa superação da forma dentro da própria forma.


 Mas a vida está aí e - Tá tudo solto por aí
Tá tudo assim, tá tudo assim. Quem quer morrer de amor se engana
Momentos são momentos, drama...



[1] Marrtin Esslin. Uma Anatomia do Drama. Zahar Editores. Pg. 16.
[2] Lehmann, Hans – Thies. Teatro Pós – Dramático. São Paulo Cosac Naify 2007, pg.26.
[3] Bornhein, Gerd Alberto, Brecht: A Estética do Teatro, Graal 1992, pg. 232.
[4] Wikipédia, a enciclopédia livre. Drama.

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